Mecanismos de Defesa Psicológica: Nossos guardiões internos frente à dor e ao estresse
Revelamos como nossos processos mentais inconscientes buscam proteger-nos de situações emocionalmente desafiadoras, e como estes mecanismos podem tanto ser nossos aliados quanto nossos inimigos.
Imagine apagar da memória um evento doloroso, negar a morte de um ente querido, tratar com afeto uma pessoa que não gostamos, ou bloquear-se diante do estresse. Tais ações são exemplos de mecanismos de defesa psicológicos que usamos para evitar sofrimento. Estas são ações inconscientes disparadas por nossa mente quando nos sentimos sobrecarregados. Entre os mais notórios estão a negação, sublimação, formação reativa, identificação, isolamento, projeção e regressão.
Defendendo a mente, alterando a realidade
Esses mecanismos de defesa têm uma característica dual: enquanto nos protegem do intolerável, se prolongados, podem distorcer nossa percepção da realidade. A Dra. Alejandra Gómez, psiquiatra, psicanalista e membro da Asociación Psicoanalítica Argentina e Internacional, comenta: “Os mecanismos de defesa são uma série de processos psíquicos inconscientes que visam proteger contra estados emocionais perturbadores como medo e ansiedade. Freud os descreveu com base em suas observações clínicas. Sua filha, Anna Freud, fez uma descrição detalhada desses mecanismos em sua clínica para crianças e adolescentes”.
A negação, por exemplo, refere-se ao comportamento de tratar aspectos da realidade como se não existissem, como não reconhecer a indiferença de um parceiro. A psicóloga Ivanna Sztejnberg esclarece que esses mecanismos de defesa nos permitem manter o equilíbrio psicológico de maneira inconsciente. Eles são disparados quando sentimos angústia ou quando estamos sob pressão, adotando atitudes que podem negar ou distorcer a realidade sem que nos demos conta.
Os mecanismos de defesa ao longo da vida
A Dra. Gómez ressalta que esses mecanismos de defesa são recursos utilizados por crianças, adolescentes e adultos durante toda a vida. “Eles ajudam a evitar a angústia que determinadas situações, reais ou imaginárias, provocam. No entanto, se persistirem por muito tempo, podem causar doenças. São uma ‘forma de sobrevivência’ para evitar a dor”, explica.
Por exemplo, negar os sintomas de uma doença e não procurar ajuda médica a tempo pode ser prejudicial para a prevenção. Em relação aos relacionamentos, a Dra. Gómez comenta: “Há sinais de que seu parceiro está te traindo. Você nega, nega, nega. Em algum momento, seu parceiro propõe a separação. Você nega e sugere uma viagem. Você continua negando. Quando volta para casa, seu parceiro se foi. Nesse caso, pode ocorrer um colapso emocional, uma crise de ansiedade grave, depressão ou uma situação traumática, pois você vem negando os sinais”.
Mecanismos de defesa e patologias
Freud descreveu outros dois mecanismos de defesa, rejeição e renúncia, que foram adotados por todos os autores pós-freudianos. No primeiro, há uma rejeição de uma realidade insuportável. O sujeito ‘quebra’ um fragmento da realidade e o ‘preenche’ com um texto próprio, que é a produção delirante, o delírio da loucura. “O paciente ‘delira para não morrer'”, diz Freud.
Já a renúncia é algo como negar algo que o sujeito percebe, mas mesmo assim, por ser traumático, age como se não o percebesse. Freud o descreve como um mecanismo de fetichismo e psicose. “São sempre modalidades de defesa contra percepções, experiências, fantasias ou ideias inaceitáveis, traumáticas ou angustiantes. Variam no mecanismo, no grau e no tipo de patologias que produzem (histeria neurótica, fobias, neurose obsessiva, psicose, perversões)”, explica a Dra. Gómez.
Os mecanismos de defesa mais importantes
- Negação: nega a existência de um desejo. Funciona como uma armadura para ignorar ou desconhecer realidades muito intensas que afetam emocionalmente a pessoa.
- Identificação: assume características de outras pessoas como se fossem suas. Pode ocorrer tanto com pessoas quanto com objetos. Influencia a maneira de falar de uma pessoa, o que ela usa, come, veste ou seu penteado.
- Projeção: atribui a outra pessoa aquilo que rejeita em si mesmo ou atribui ao outro os desejos que não quer reconhecer como próprios. Esta reação aparece em discussões, quando acusações são feitas ou quando se reprova nos outros questões que, na verdade, nos pertencem.
- Regressão: age de maneira infantil para que alguém assuma nossas responsabilidades e obrigações. Na presença de fortes pressões, há atitudes que não coincidem com o estágio atual de desenvolvimento e procedem como quando eram crianças, pois assim encontram segurança, tranquilidade e evitam compromissos.
- Afastamento: é um comportamento ou pensamento que rompe suas conexões afetivas com experiências vividas. Isso ocorre quando se viveu um episódio traumático e é contado com total indiferença.
- Repressão: por meio de um esforço contínuo e permanente, anula-se um desejo até o ponto de agir como se ele não existisse. Aparece como defesa contra memórias perturbadoras ou quando se quer evitar desejos perigosos.
- Sublimação: Desloca o desejo sexual para um novo fim não sexual geralmente relacionado à arte, prática religiosa ou investigação intelectual. Gera uma mudança de direção nas emoções percebidas como imprudentes para canais mais aceitáveis.
- Deslocamento: ocorre quando uma emoção ou sentimento (geralmente a raiva) é redirecionado a uma pessoa ou objeto que não pode se defender. É ativado quando não podemos expressar nossos sentimentos nem nos relacionar com os outros.
Embora seja possível reconhecer e analisar esses mecanismos, provavelmente não notaremos sua presença no mesmo momento em que são ativados e manifestados.
A detecção desses mecanismos permitirá elaborar (a partir de um plano consciente e reflexivo) situações de tensão que envolvam. Assim, será possível oferecer uma resposta saudável que facilite o retorno ao equilíbrio emocional. A psicoterapia psicanalítica, espaços de introspecção e reflexão são boas diretrizes para navegar neste percurso.