O impacto das concussões no declínio cognitivo. Confira as descobertas de um longo estudo
Novas pesquisas apontam para uma relação direta entre concussões, mesmo que apenas uma, e um aumento no risco de declínio cognitivo em estági
A metodologia do estudo
Publicado na revista Neurology, o estudo analisou um grandioso grupo de 8.662 gêmeos masculinos veteranos da Segunda Guerra Mundial, dos quais grande parte eram idênticos. A análise do desenvolvimento cognitivo de um gêmeo que sofreu uma concussão em comparação a um que não teve tal experiência, proporcionou uma visão única devido à semelhança genética entre os pares.
As avaliações cognitivas foram realizadas através de contato telefônico, iniciando-se, em média, aos 67 anos de idade dos participantes. Os acompanhamentos subsequentes foram feitos até três vezes em um espaço de 12 anos.
Descobertas importantes
Iniciada na década de 1990, a pesquisa revelou que gêmeos que sofreram lesão cerebral traumática (LCT) apresentaram um declínio mais significativo em suas capacidades cognitivas aos 70 anos de idade, comparado aos seus irmãos. O estudo também indicou que o declínio cognitivo tende a ser maior em casos de múltiplas concussões, concussões ocorridas após os 24 anos de idade, concussões que resultaram em perda de consciência ou uma combinação desses fatores.
Marianne Chanti-Ketterl, coautora da pesquisa e gerontologista da Universidade de Duke, destacou que, embora os efeitos possam ser considerados pequenos, a contribuição da LCT para o declínio cognitivo na vida posterior, aliada a outros fatores, pode justificar a avaliação para um possível comprometimento cognitivo.
Limitações e implicações
O estudo apresenta algumas limitações, sendo uma delas a predominância de homens brancos entre os participantes. Além disso, embora variáveis como educação, condições neurológicas e hábitos de consumo de tabaco e álcool tenham sido controlados, fatores como atividade física não foram considerados. O estudo também não distinguiu a gravidade das concussões e as lesões foram relatadas pelos próprios participantes, o que pode levar a possíveis imprecisões.
No entanto, as descobertas do estudo são de grande significância. A pesquisa ressalta a importância de salvaguardar a saúde cerebral e buscar cuidados médicos após uma lesão na cabeça, mesmo que pareça insignificante, como aquelas que podem ocorrer em pequenos acidentes de carro.
Chanti-Ketterl enfatizou que não podemos subestimar as possíveis consequências de longo prazo da LCT. Com o aumento de visitas a emergências médicas por lesões esportivas ou recreativas e com a estimativa de meio milhão de militares que sofreram uma LCT entre 2000 e 2020, a pesquisa pode ajudar a identificar pessoas que se beneficiariam de intervenções precoces para retardar ou até prevenir o declínio cognitivo ou a demência.
Em suma, o estudo destaca a relevância do cuidado com a saúde cerebral e a necessidade de buscar atendimento médico após lesões na cabeça. As descobertas são especialmente importantes em um cenário onde as LCTs são comuns, tanto em contextos esportivos quanto no cotidiano, e onde o envelhecimento da população torna o declínio cognitivo um problema crescente de saúde pública. A principal mensagem deste estudo é clara: o cuidado com o cérebro é essencial para uma saudável saúde cognitiva futura.
Prevenção e cuidados
Além de identificar as consequências das lesões cerebrais traumáticas, é crucial abordar medidas preventivas e cuidados pós-trauma. A conscientização sobre a importância do uso de equipamentos de segurança em atividades esportivas e recreativas, como capacetes e protetores de cabeça, é fundamental. Da mesma forma, em situações cotidianas, como dirigir ou andar de bicicleta, medidas preventivas podem ser a chave para evitar lesões cerebrais. Após qualquer trauma, mesmo que pareça menor, é vital buscar avaliação médica para determinar a extensão do dano e receber orientações adequadas para uma recuperação eficaz.
Implicações sociais e econômicas
As lesões cerebrais traumáticas, além de afetar a saúde dos indivíduos, têm amplas implicações sociais e econômicas. Os custos diretos e indiretos associados à reabilitação, tratamentos médicos e perda de produtividade devido ao comprometimento cognitivo podem ser significativos. Em uma perspectiva social, as famílias frequentemente enfrentam desafios ao cuidar de membros que sofrem de declínio cognitivo, exigindo redes de apoio e serviços especializados. Portanto, investir em prevenção e tratamento adequado não é apenas uma questão de saúde, mas também uma estratégia econômica e social inteligente.