O que explica a viralização do ódio? Por quê a interação negativa nas redes cresce?
No que essas interações negativas podem afetar nas relações entre as pessoas e quais as consequências de responder a sentimentos ruins nas
No decorrer da última década, as redes sociais vieram para ficar. Transformaram-se em uma janela para o mundo real, onde coexistem tanto boas quanto más notícias. No entanto, é nessa plataforma digital que a saúde mental pode ser negativamente afetada. Situações de raiva e ódio, conforme provado por diversos estudos, viralizam com frequência e representatividade muito maior que as notícias positivas.
Este fenômeno cria um efeito bola de neve ou um ciclo vicioso, gerando mais desconforto e mal-estar. Mesmo que você não pretenda, há uma ira que se manifesta através das redes sociais e o seu cérebro a interpreta como tal. Em meio a esse crescimento de desconforto, seu cérebro reage de maneira negativa.
A propensão a viralizar ódio
Outro fator intrigante revelado pelos estudos é que somos mais inclinados a compartilhar ódio e desconforto do que alegria e bem-estar. Uma pesquisa conduzida por vários pesquisadores chineses revelou que, em geral, precisamos de um vínculo menor com o emissor para replicar um conteúdo de raiva ou irritação.
Embora não haja provas ou evidências definitivas sobre por que isso ocorre, existem estudos que sustentam que uma exposição elevada a redes sociais aumenta os níveis de raiva. Mais do que isso, foram realizadas pesquisas que comprovam a relação entre o uso de redes sociais e certos parâmetros ligados à saúde mental, como depressão e ansiedade. Ambos os padrões, a propósito, estão ligados ao que podemos considerar como vício em redes sociais.
Redes Sociais: sinônimo de megafone para protestos
Não é inteiramente sua culpa se você observar que as emoções negativas são mais recorrentes nas redes sociais. Um estudo da Universidade de Yale evidenciou que comentários negativos se retroalimentam. Depois de analisar mais de 12 milhões de tweets de cerca de 7.000 contas diferentes, os pesquisadores descobriram um padrão de discurso de ódio e raiva nas redes sociais.
As redes sociais transformaram-se em uma plataforma de protesto, já que estamos mais predispostos a replicar ou compartilhar queixas do que elogios. Embora o estudo não explique exatamente por que isso ocorre, há uma tendência clara: preferimos reclamar.
O anonimato nas redes
O escudo do anonimato que as redes sociais proporcionam permite a expressão de sentimentos que, em outras circunstâncias, poderiam gerar um conflito direto. Um estudo da Universidade de Stanford confirmou que há até 3,2 vezes mais chances de se compartilhar conteúdos polêmicos de maneira anônima.
Curiosamente, o mesmo estudo descobriu que a ausência de apoio social não influenciaria na decisão de compartilhar o conteúdo. Portanto, o ódio nas redes sociais poderia ser simplesmente uma forma de extravasar a frustração, mesmo sem buscar aprovação. No entanto, isso não significa que o efeito não se multiplique quando o conteúdo é validado socialmente.
O benefício de ter usuários ativos
O aumento da interação, independentemente do conteúdo, gera um aumento do tráfego na plataforma. As redes sociais se beneficiam dessa escalada de desconforto. “Nossos dados mostram que as plataformas de redes sociais não se limitam a refletir o que acontece na sociedade”, disse Brady, pesquisador da Universidade de Yale.
Isso resulta em uma espécie de recompensa que vai crescendo. Pode ser na forma de compartilhamentos, ‘likes’ ou retweets. Ao obter repercussão por suas palavras, o usuário sente-se compelido a continuar aumentando o nível de queixa ou irritação. Ele cria um papel ou perfil em que nota uma maior validação social dependendo do tipo de conteúdo. Se for uma postagem amigável, a viralização é, em termos gerais, menor. Se for uma postagem em que se manifesta a indignação, as chances de encontrar réplicas aumentam.
A manipulação algorítmica
Outro aspecto que merece atenção é a forma como os algoritmos das plataformas de redes sociais atuam na disseminação de conteúdo. Estes algoritmos são projetados para maximizar o engajamento do usuário, o que frequentemente resulta na promoção de conteúdos mais polêmicos ou emocionalmente carregados. Em outras palavras, a raiva e o ódio podem ser amplificados não apenas pela natureza humana, mas também pela tecnologia que direciona o que vemos e interagimos online. Dessa forma, torna-se um ciclo vicioso: os algoritmos captam nosso interesse por conteúdos mais extremos e, em resposta, nos oferecem ainda mais desses conteúdos.
A responsabilidade das plataformas
É impossível discutir o ambiente tóxico nas redes sociais sem questionar a responsabilidade das próprias plataformas. Até que ponto essas empresas deveriam intervir para moderar o discurso de ódio e a desinformação? Até agora, as ações tomadas têm sido tímidas ou inconsistentes, gerando críticas tanto por fazerem muito quanto por fazerem pouco. Algumas plataformas têm investido em moderação de conteúdo e educação digital, mas a eficácia dessas medidas ainda é objeto de debate. A complexidade ética envolvida nessa discussão coloca em questão o papel das redes sociais na sociedade moderna e até que ponto a liberdade de expressão pode ou deve ser limitada em prol do bem-estar coletivo.