Descoberta em Sicília de Reserva Aquífera Antiga de 6 Milhões de Anos

Uma investigação científica revelou a existência de uma reserva de água doce subterrânea, encapsulada há milhões de anos nos recônditos das Montanhas Híbleas, na Sicília, e que pode representar um tesouro hídrico para a região.

Publicado 22/01/2024 às 14:34 por Alex Torres

Imagine água da chuva infiltrando-se lentamente nas profundezas da Terra e permanecendo intacta por milênios. É exatamente isso que aconteceu sob as Montanhas Híbleas, na Sicília. Pesquisadores desvendaram a existência de um aquífero fossilizado, um verdadeiro cofre de água doce que data de cerca de seis milhões de anos atrás e que está imobilizado a uma profundidade que varia de 700 a 2.500 metros. Esse achado surpreendente traz à tona detalhes do período Messiniano, época em que o Mar Mediterrâneo experimentou uma crise de salinidade sem precedentes.

Os estudos publicados em 22 de novembro na revista Communications Earth & Environment apontam que essa crise se deu quando o nível do mar despencou cerca de 2.400 metros abaixo do atual, causando o isolamento do Mar Mediterrâneo pelo aumento do fundo oceânico ao redor do Estreito de Gibraltar. O resultado? Uma exposição do leito marinho que permitiu que a água das chuvas penetrasse e se acumulasse nas rochas carbonáticas, formando o aquífero que hoje conhecemos.

Um Aquífero Preservado no Tempo

Por meio dos dados públicos de poços profundos na região da formação de Gela, conhecida por ser um reservatório de petróleo, os pesquisadores construíram modelos 3D do aquífero, projetando um volume impressionante de água: 17,5 quilômetros cúbicos, superior ao volume do famoso Lago Ness, na Escócia.

A equipe reconstruiu a geologia do passado na área que compreende o Planalto Híbleo e o Planalto Maltês, no Mediterrâneo central, e descobriu que a água doce infiltrou a crosta terrestre milhares de metros abaixo do nível do mar atual como resultado da já mencionada crise de salinidade.

Entendendo a Conexão Hidrológica

Para sustentar a hipótese, era necessário identificar um caminho que canalizasse a água meteórica, ou seja, proveniente de chuvas e neve, desde o leito do Mediterrâneo até o confinamento subterrâneo na formação de Gela. A Escarpa de Malta, um penhasco submarino que se estende ao sul da margem oriental da Sicília por 300 quilômetros, foi apontado como o provável elo de ligação desse complexo sistema hídrico.

A crise de salinidade do Messiniano durou aproximadamente 700 mil anos e terminou abruptamente com um aumento rápido do nível do mar, o que possivelmente alterou as condições de pressão e interrompeu o mecanismo de infiltração da água doce. Supõe-se também que, durante esse período, sedimentos e depósitos minerais teriam vedado a passagem na Escarpa de Malta, evitando que a água salgada do mar se misturasse com a água doce do aquifero.

Possibilidades para o Futuro

A equipe de pesquisa nutre a esperança de que essa reserva subterrânea possa ser utilizada para atenuar a escassez de água na Sicília e serve como inspiração para outras explorações semelhantes em outras partes do Mediterrâneo.

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