Herança Genética e Ansiedade: O elo entre gerações

Este artigo explora a relação entre a herança genética e a ansiedade, um transtorno que afeta milhões de pessoas no mundo e é a principal causa de incapacidade, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Publicado 10/08/2023 às 07:12 por Alex Torres

Imagine uma criança que, desde muito cedo, apresenta um temperamento extremamente ansioso. Esta característica, prematura em sua vida, pode indicar uma predisposição a desenvolver transtornos do humor, como ansiedade e depressão, no futuro. Surpreendentemente, cerca de metade das crianças que exibem extrema ansiedade na infância acabam por desenvolver transtornos relacionados ao estresse ao longo de suas vidas.

Estudo revela conexões genéticas com a ansiedade

Um estudo conduzido na Universidade de Wisconsin-Madison, Estados Unidos, publicado no periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS), traz luz sobre a transmissão desse risco de desenvolver ansiedade e depressão de pais para filhos.

Realizado com macacos rhesus, o estudo revelou que um circuito cerebral hiperativo envolvendo três áreas do cérebro é transmitido de geração em geração, sendo potencialmente responsável pelo desenvolvimento de ansiedade e depressão. Tal como nos humanos, alguns dos pequenos macacos rhesus apresentam traços de ansiedade excessiva, que se manifestam como uma reação exagerada a potenciais ameaças em seu comportamento e em seus parâmetros fisiológicos.

O impacto da herança genética na ansiedade

O estudo revelou que essa hipersensibilidade corresponde a uma atividade elevada em um circuito cerebral que conecta o sistema límbico (responsável pelas emoções), a corteza prefrontal (responsável pela tomada de decisões e planejamento) e o mesencéfalo (responsável pela movimentação, dor e nível de ativação).

Os investigadores descobriram que cerca de 35% da variação nas tendências de ansiedade pode ser explicada pela história familiar. Para entender quais regiões do cérebro são responsáveis por passar a ansiedade de geração em geração, os autores utilizaram imagens cerebrais de alta resolução para medir o comportamento relacionado à ansiedade.

Os pesquisadores expuseram os jovens macacos a uma situação ligeiramente ameaçadora – a presença de um estranho que não estabelece contato visual, uma situação que também seria ameaçadora para uma criança humana. Durante este encontro, foram utilizadas técnicas de imagem comuns na clínica, tais como a tomografia por emissão de pósitrons (PET), para identificar as regiões do cérebro em que o aumento do metabolismo previa o nível de ansiedade.

Ansiedade: um problema evolutivo?

Interessantemente, o circuito cerebral que foi correlacionado geneticamente com as diferenças individuais na ansiedade precoce envolve três regiões do cérebro relacionadas à sobrevivência. Estas regiões foram identificadas no tronco cerebral, na amígdala e na corteza prefrontal.

“Acreditamos que, em certa medida, a ansiedade pode fornecer uma vantagem evolutiva, pois ajuda a reconhecer e evitar perigos. No entanto, quando esses circuitos são hiperativos, eles se tornam problemáticos e podem levar a transtornos de ansiedade e depressão”, explicam os pesquisadores.

Essa descoberta contribui para a compreensão de como os genes podem afetar o funcionamento cerebral e levar à ansiedade infantil extrema, aumentando significativamente o risco de desenvolver ansiedade e depressão no futuro.

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