Inteligência e riqueza nem sempre andam de mãos dadas. Saiba porque!
Um estudo sueco questiona a ideia popular de que a inteligência leva diretamente ao sucesso financeiro, argumentando que a riqueza extrema
Todos nós já ouvimos o ditado de que “o dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a pagar as contas”. Uma crença comum é que a inteligência nos ajudaria a ganhar mais dinheiro e ter melhores rendimentos. Acreditamos que as pessoas mais ricas são assim porque trabalham mais ou porque são mais espertas. No entanto, um estudo da Universidade de Linköping, na Suécia, desafia essas suposições.
Inteligência versus riqueza: um paradoxo intrigante
O estudo, publicado na revista científica European Sociological Review, sugere que, embora haja uma correlação entre ser inteligente e ter um bom rendimento, não há necessariamente uma ligação entre ser inteligente e ser extremamente rico.
“Esta pesquisa permite verificar, pela primeira vez, se salários extremamente altos são indicadores de uma inteligência igualmente extrema”, disse Marc Keuschnigg, diretor da pesquisa e professor associado do Instituto de Sociologia Analítica da Universidade de Linköping e catedrático de Sociologia da Universidade de Leipzig.
Para surpresa de muitos, a pesquisa descobriu que aqueles que estão no topo 1% dos mais ricos ganham mais do que o dobro daqueles que estão no 2% ou 3% melhores pagos. No entanto, seus resultados cognitivos foram inferiores.
Meritocracia e inteligência: uma relação complexa
Essas descobertas contrariam a ideia de meritocracia, que sugere que quanto mais inteligente e trabalhador você é, mais dinheiro você ganhará. Este estudo, ao invés disso, fornece um olhar intrigante sobre a complexa relação entre inteligência e sucesso financeiro.
Para realizar o estudo, a equipe de pesquisa analisou microdados relacionados à capacidade cognitiva, antecedentes socioeconômicos, educação, salário e prestígio profissional de quase 60.000 suecos fornecidos pela Oficina Central de Estatísticas da Suécia.
Os pesquisadores compararam esses dados com conjuntos de homens que se alistaram para o serviço militar entre 1971 e 1977 e entre 1980 e 1999, e mediram 11 anos de participação no mercado de trabalho entre os 35 e os 45 anos de idade.
Inteligência estagnada, riqueza acelerada
O estudo revelou que a inteligência desempenha um papel nos ganhos, mas não necessariamente nos ganhos altos. A partir de um rendimento anual de 60.000 euros, a capacidade cognitiva não continua aumentando na mesma proporção que os ganhos.
Os pesquisadores admitem que seu estudo tem diversas limitações. Eles não consideraram fatores como motivação, habilidades sociais, criatividade, habilidade física e estabilidade mental, que também podem influenciar o sucesso financeiro. Além disso, o estudo foi limitado a um único país e gênero, excluindo mulheres e imigrantes na análise.
No entanto, as conclusões desafiam a concepção comum de que a inteligência é um fator determinante para a riqueza extrema. Além disso, eles não encontraram nenhuma ligação entre a inteligência e o sucesso em profissões prestigiosas, como médicos, advogados, acadêmicos, legisladores ou parlamentares.
Fatores de sucesso além da inteligência
Enquanto a pesquisa da Universidade de Linköping desafia a relação direta entre inteligência e riqueza extrema, ela nos lembra que outros fatores também desempenham um papel crucial no sucesso financeiro. Por exemplo, qualidades como resiliência, habilidades de comunicação e capacidade de adaptação são frequentemente citadas como ingredientes importantes para o sucesso em diversas áreas. Também é inegável o impacto do ambiente socioeconômico de origem, o acesso à educação de qualidade e as conexões pessoais na trajetória de uma pessoa rumo ao sucesso financeiro. Esses elementos podem atuar como facilitadores ou barreiras, dependendo das circunstâncias individuais.
Influência da cultura e do contexto social
Outro aspecto a ser considerado é o papel da cultura e do contexto social na definição de sucesso e riqueza. Em diferentes sociedades, a riqueza pode ser medida não apenas pelo acúmulo de bens materiais, mas também pelo capital social, reputação, ou até mesmo realizações espirituais. Além disso, a percepção do que constitui “inteligência” pode variar amplamente. Em algumas culturas, habilidades práticas ou conhecimento tradicional podem ser tão valorizados quanto o raciocínio lógico-matemático. Assim, a relação entre inteligência e riqueza também pode ser moldada por fatores culturais e sociais que vão além dos medidos em testes cognitivos.
Em suma, é seguro dizer que, de acordo com esta pesquisa, a inteligência e a riqueza nem sempre andam de mãos dadas.