Quatro condições para diferenciar desatenção de TDAH
Entenda as quatro condições do TDAH, por que desatenção não basta e como estilo de vida, tratamento e treino mudam o jogo segundo Fernando Fernandes.
Desatenção e TDAH não são sinônimos, e essa diferença muda decisões importantes. Muita gente se queixa de foco, inclusive aprovados em Medicina na USP ou no concurso da Receita Federal, mas nem todos preenchem quatro condições clínicas essenciais.
O psiquiatra Fernando Fernandes explica que TDAH envolve desenvolvimento desde muito cedo e sintomas organizados em grupos. Além disso, ele alerta que a vida moderna, com estímulos intensos e fugazes, inflaciona queixas inespecíficas de atenção e cria confusões diagnósticas.
O que é TDAH e por que tanta confusão
O TDAH nasce no desenvolvimento e reúne três grupos de sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Frequentemente, hiperatividade e impulsividade caminham juntas. Porém, a desatenção isolada aparece em muitas pessoas, por inúmeros motivos, e não define diagnóstico por si só.
Quase todas as grandes síndromes psiquiátricas mexem na atenção em algum grau. Portanto, depressão, transtorno bipolar, episódios de mania e esquizofrenia podem gerar distração relevante. Além disso, questões clínicas como insônia ou uma noite mal dormida sabotam concentração no dia seguinte.
Fernandes inclusive cita “nove causas de desatenção que não são TDAH” para mostrar a amplitude de possibilidades. Assim, você evita conclusões precipitadas e entende que sintoma semelhante pode ter raízes muito diferentes, exigindo estratégias específicas.
As quatro condições essenciais para considerar TDAH
1) Início dos sintomas antes dos 12 anos
O relógio do TDAH começa cedo. Os sinais devem aparecer antes dos 12 anos. Desde 2013, o critério ficou menos rígido, pois antes exigia início até os 7 anos. Porém, se a desatenção começou só na adolescência ou na vida adulta, outra explicação se torna mais provável.
2) Presença em mais de um ambiente
Sintomas verdadeiros não ficam presos a um só contexto. Eles surgem em pelo menos dois ambientes, e geralmente em vários. Caso a desatenção apareça apenas em uma atividade ou lugar, desinteresse ou distratores do próprio ambiente podem ser os culpados.
3) Prejuízo funcional visível na infância
Não basta notar distração; é preciso haver prejuízo. Até os 12 anos, os sintomas devem ter atrapalhado desempenho acadêmico, social ou cotidiano. Caso contrário, a queixa pode até existir, mas não sustenta o diagnóstico de TDAH com base clínica robusta.
4) Regra de exclusão: não ser melhor explicado por outro transtorno
Antes de fechar TDAH, investigue causas maiores. Depressão, transtorno bipolar, mania e esquizofrenia frequentemente cursam com desatenção. Além disso, condições clínicas, como insônia, e hábitos de sono ruins também derrubam foco e memória.
Tratamento adequado muda rumos, mas não é atalho
Quando o diagnóstico bate, o tratamento transforma rotinas. Pacientes com TDAH frequentemente relatam salto de desempenho no trabalho e resgate da autoestima. Aliás, muitos descobrem que continuam capazes, e que faltava abordagem certa para organizar atenção.
Por outro lado, estimulante não prova diagnóstico. Quase qualquer pessoa melhora performance ao usar esse tipo de medicação, mas isso não confirma TDAH. Além disso, uso indevido traz consequências e não substitui avaliação responsável.
Estilo de vida, tecnologia e o treino da atenção
Vivemos rodeados de estímulos rápidos e intensos que oferecem “dopamina barata”. Assim, o cérebro acostuma com gratificação imediata e sofre para sustentar foco profundo. Com o aumento do uso de tecnologia, muita gente notou queda real na capacidade de concentração.
Atenção é habilidade treinável, como um músculo. E, segundo Fernandes, nada supera duas práticas clássicas: leitura e estudo. Esqueça promessas milagrosas, suplementos da moda ou truques instantâneos. Em vez disso, construa rotina deliberada de treino atencional contínuo.
Amarrando as ideias
Desatenção sozinha não define TDAH. Você precisa checar início antes dos 12 anos, presença em múltiplos ambientes, prejuízo na infância e exclusão de outras causas. Portanto, procure avaliação qualificada e organize hábitos que sustentem foco real.
Com diagnóstico certo, tratamento e treino, o desempenho volta a crescer. E, com ajustes no estilo de vida, a atenção deixa de ser refém de estímulos fugazes e passa a trabalhar a seu favor, de forma consistente e sustentável.