Síndrome de Burnout: o fenômeno da exaustão é uma doença ou uma soma?
Mergulhe em uma conversa esclarecedora entre especialistas sobre a Síndrome de Burnout, um problema crescente no mundo corporativo brasileiro e global
O cenário de Burnout no Brasil
De acordo com uma pesquisa do ISMA-BR, o Brasil é o segundo país com maior incidência de casos de Burnout. Este é um alerta para os gestores de Recursos Humanos e profissionais de saúde ocupacional, que precisam saber o máximo possível sobre essa síndrome para melhor orientar e cuidar de suas equipes.
Insights de um especialista em Burnout
Em um debate esclarecedor, Marcos Medanha, um profissional renomado em síndrome de Burnout, compartilhou suas valiosas percepções sobre o tema. Medanha não é apenas médico e advogado, mas também possui uma pós-graduação em filosofia e especialização em psiquiatria ocupacional. Ele mergulhou no campo do direito com o objetivo de compreender a fundo os aspectos legais que envolvem a medicina do trabalho. Marcos é ainda o autor do livro “O que ninguém te contou sobre o Burnout”, onde explora o conceito da síndrome tal como é definido pela Organização Mundial da Saúde no Código Internacional de Doenças.
A visão da OMS sobre a Síndrome de Burnout
A Organização Mundial da Saúde descreve a Síndrome de Burnout como uma condição resultante do estresse crônico no trabalho que não foi gerenciado com sucesso e enfatiza que a síndrome está estritamente relacionada ao contexto profissional. O Burnout é caracterizado por três elementos fundamentais: exaustão ou esgotamento de energia, aumento do distanciamento mental ou negativismo/cinismo em relação ao próprio trabalho, e redução da eficácia profissional.
É importante destacar que a Síndrome de Burnout não é uma doença. Para alcançar esse diagnóstico, é necessário excluir outros distúrbios mentais, como ansiedade e depressão. No entanto, isso não exclui a possibilidade de coexistência desses transtornos com o Burnout, principalmente quando o cuidado com a saúde mental é negligenciado.
Os impactos da negligência com a saúde mental nas empresas
Infelizmente, muitas empresas ainda resistem à ideia de desenvolver programas de saúde mental, o que traz grandes prejuízos. Uma pesquisa do International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) mostrou que, antes da pandemia, apenas 18% das organizações se preocupavam com a saúde mental de seus colaboradores.
Embora esse número tenha aumentado após o início da pandemia, ainda há muito o que fazer. As empresas que adotam uma postura responsável em relação à saúde mental dos colaboradores podem se beneficiar significativamente, com um retorno de 400% do lucro. Portanto, a questão se torna na seguinte pergunta: quanto a sua empresa está perdendo por não cuidar da saúde mental da sua equipe?
Prevenindo a Síndrome de Burnout
Michael Leiter e Christina Maslach, ambos especialistas em Burnout, identificaram seis riscos ocupacionais ligados à síndrome. Ao gerenciar esses riscos, as empresas podem prevenir casos de Burnout. Estes riscos incluem: sobrecarga de trabalho, falta de autonomia, recompensa insuficiente, falta de comunidade, injustiça no ambiente de trabalho, e conflito de valores entre colaborador e empresa.
Trabalhador engajado x workaholic (viciado em trabalho)
Há uma diferença fundamental entre um trabalhador engajado e um workaholic. Enquanto o trabalhador engajado mantém uma relação saudável com o trabalho, o workaholic tem uma relação de dependência e obsessão com o trabalho, o que pode levar à Síndrome de Burnout.
Conscientização é a chave
Proteger a empresa do Burnout envolve muito mais do que apenas conhecer a síndrome. É importante que a conscientização sobre a saúde mental seja uma parte integrante da cultura da empresa, refletida em todos os aspectos do ambiente de trabalho. Afinal, um ambiente de trabalho saudável beneficia não apenas o colaborador, mas toda a organização.
Abordagens Multidisciplinares no Tratamento de Burnout
Além do acompanhamento médico tradicional, as abordagens multidisciplinares têm se mostrado cada vez mais eficazes no tratamento de Burnout. Terapias alternativas como a atenção plena (mindfulness), a prática de exercícios físicos e a reeducação alimentar são algumas das estratégias que podem complementar o tratamento. Empresas que investem em programas que oferecem essas práticas não apenas beneficiam os colaboradores em termos de bem-estar, mas também observam um aumento na produtividade e uma diminuição nos casos de afastamento por problemas de saúde mental.
A Importância do Apoio da Alta Gestão
O comprometimento da alta gestão é fundamental para o sucesso de qualquer programa de prevenção ou tratamento de Burnout. Quando os líderes entendem e valorizam a importância da saúde mental, fica mais fácil implementar políticas efetivas e dar o exemplo para toda a equipe. De fato, a postura dos gestores influencia diretamente o clima organizacional e pode ser o diferencial entre um ambiente de trabalho tóxico e um saudável. O treinamento de líderes para que saibam identificar sinais de Burnout e como abordá-los é crucial para a criação de uma cultura de bem-estar na empresa.