Adultos que sofreram traumas na infância podem ser mais propensos a dores de cabeça, aponta estudo
Uma investigação recente descobre uma possível ligação entre dores de cabeça e traumas na infância, tais como negligência, abuso ou disfunção familiar. O estudo ressalta a importância de considerar os eventos da infância como um fator de risco significativo para condições de saúd
Catherine Kreatsoulas, da Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard em Boston, autora do estudo, relata que eventos traumáticos durante a infância podem ter implicações profundas na saúde mais tarde.
Em seu meta-análise, Kreatsoulas e sua equipe analisaram 28 estudos envolvendo mais de 154.000 indivíduos de 19 países. Entre estes, mais de 48.000 relataram a ocorrência de pelo menos um evento traumático na infância. Aproximadamente 25.000 pessoas foram diagnosticadas com cefaleias primárias.
O estudo descobriu que aqueles que passaram por algum trauma na infância tinham 48% mais chances de ter um distúrbio de dor de cabeça em comparação com os que não vivenciaram tais experiências.
Além disso, foi observado que a probabilidade de ter dores de cabeça aumentava conforme o número de eventos traumáticos na infância aumentava. Comparadas com as pessoas que não experimentaram traumas na infância, aquelas que passaram por um episódio traumático tinham 24% mais risco de desenvolver um distúrbio de dor de cabeça. Por outro lado, aqueles que sofreram quatro ou mais eventos traumáticos tinham mais que o dobro de chances de ter um distúrbio de dor de cabeça.
Tipos de traumas e suas consequências
Na pesquisa, foram categorizados diferentes tipos de traumas. O abuso físico, emocional e sexual, bem como testemunhar ameaças de violência e conflitos familiares graves, foram categorizados como “traumas de ameaça”.
O estudo considerou como “traumas de privação” a negligência, as adversidades econômicas, ter um membro da família encarcerado, divórcio ou separação, morte dos pais e morar em um lar onde há doença mental, discapacidade crônica ou doença, ou abuso de álcool ou de substâncias.
Traumas de ameaça estavam associados a um aumento de 46% nas dores de cabeça, enquanto traumas de privação estavam relacionados a um aumento de 35% nessas condições. Especificamente, o abuso físico e sexual (traumas de ameaça) estavam ligados a um aumento de 60% no risco de dor de cabeça. Entre os traumas de privação, aqueles que sofreram negligência na infância apresentavam um risco quase três vezes maior de ter um distúrbio de cefaleia.
Os pesquisadores esclareceram que o estudo identificou uma associação entre o trauma passado e as futuras dores de cabeça, não necessariamente uma relação de causa e efeito.
Identificando traumas para melhor tratamento e prevenção
Os resultados foram publicados no dia 25 de outubro na revista Neurology. Kreatsoulas afirma que identificar os tipos específicos de experiências traumáticas na infância pode auxiliar na elaboração de estratégias de prevenção e tratamento para um dos distúrbios incapacitantes mais comuns globalmente.
Segundo ela, é preciso um plano integrado de saúde pública e estratégias de intervenção clínica para lidar com esses eventos traumáticos que ocorreram na infância.
Kreatsoulas ressalta ainda que é provável que a estimativa real da associação seja mais alta devido à natureza delicada de relatar eventos traumáticos na infância.
Para mais informações sobre dores de cabeça, acesse o site do Instituto Nacional de Transtornos Neurológicos e Acidentes Vasculares Cerebrais dos EUA.
Fonte: Academia Americana de Neurologia, comunicado de imprensa, 25 de outubro de 2023.