Arqueólogos descobrem ossadas humanas de cerca de 10 mil anos no Brasil
Uma descoberta arqueológica surpreendente no nordeste do Brasil revelou sepultamentos com até 10 mil anos, evidenciando a presença
Um Cemitério Indígena com História Milenar
Em recentes escavações realizadas por arqueólogos no Brasil, foi desenterrado um extenso cemitério indígena na cidade de São Luís, capital do Maranhão. Mais de 40 esqueletos e milhares de artefatos associados a rituais fúnebres foram encontrados, com datações que remontam a 10 mil anos atrás. O sítio arqueológico, localizado na Fazenda Rosane, situa-se entre duas avenidas movimentadas e veio à tona em virtude de obras para um programa habitacional governamental.
Os Primeiros Habitantes e os Sambaquianos
Os restos humanos mais antigos sugerem a existência de uma comunidade ancestral até então desconhecida, anterior aos Sambaquianos, caçadores-coletores costeiros que viveram historicamente na região. Essa descoberta representa o registro mais antigo de humanos no estado do Maranhão, no nordeste brasileiro. Já era de conhecimento dos arqueólogos que a região de São Luís, também conhecida como Upaon-Açu – que em línguas indígenas Tupí-Guaraní significa “grande ilha” – possuía vestígios de atividades humanas pré-históricas. Por exemplo, uma mandíbula pré-histórica foi encontrada na Fazenda Rosane na década de 1970, e outros artefatos datados de 6 mil anos atrás já haviam sido descobertos na capital maranhense. Esses vestígios foram atribuídos aos povos Sambaquianos, que se sustentavam com recursos marinhos e construíam montes de conchas com restos alimentares que chegavam a alcançar até 30 metros de altura.
Escavação Revela Múltiplas Camadas da História
A escavação mais recente, iniciada em junho de 2019, revelou inicialmente uma variedade de cerâmicas fragmentadas e ferramentas de pedra. No entanto, no auge da pandemia da COVID-19 em 2020, o primeiro esqueleto foi encontrado a aproximadamente 60 centímetros de profundidade. Desde então, a equipe arqueológica descobriu um total de 43 esqueletos e cerca de 100.000 fragmentos de artefatos em pelo menos quatro diferentes camadas de sedimento, indicando que o local foi ocupado por pessoas em pelo menos quatro períodos distintos ao longo de 8.500 anos.
Os esqueletos encontrados pertencem majoritariamente a homens adultos e incluem restos de duas crianças. Segundo Wellington Lage, o arqueólogo responsável pelas escavações, as análises iniciais sugerem que esses indivíduos estavam envolvidos em atividades físicas intensas, como indicado por marcas ósseas de carga e mobilidade extensiva. O esqueleto mais profundo estava quase 2 metros abaixo da superfície e foi datado utilizando a técnica de luminescência opticamente estimulada (OSL), que apontou para um período entre 7.000 e 10.000 anos atrás.
Importância Histórica e Futuros Passos
De acordo com Sara Batista, arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que não esteve envolvida na escavação, os achados são as datas mais antigas no estado do Maranhão, desde o meio e início do período Holoceno, sendo representativos da história mundial na época em que as Américas foram povoadas. Para validar a datação das diferentes camadas do solo, Lage enviará amostras para o laboratório Beta Analytic, nos EUA, para datação por radiocarbono em fevereiro, permitindo estabelecer quando os seguintes grupos ocuparam o local: pré-Sambaquiano, Sambaquiano, Tupi (culturas amazônicas) e Tupinambás — um subgrupo Tupi que ocupou a costa atlântica e teve contato com europeus após 1500.
O trabalho de campo na Fazenda Rosane deve ser concluído em seis meses. A construtora, em parceria com o IPHAN e a Universidade Federal do Maranhão, planeja construir um centro de curadoria e armazenamento para abrigar os achados arqueológicos, incluindo um laboratório de pesquisa e um museu. A iniciativa representa um marco importante para a preservação e compreensão da pré-história do Brasil, oferecendo uma janela única para a vida das comunidades antigas que habitaram a região.