O enigma das Luzes de Hessdalen na Noruega
Fenômeno luminoso no Vale de Hessdalen, na Noruega: história, ciência, teorias e dados de campo reunindo Universidade Ostfold, Itália e projetos desde 1983.
As noites e, surpreendentemente, os dias do Vale de Hessdalen, no centro da Noruega, oferecem um espetáculo raro. Em um trecho de 12 km, surgem orbes do tamanho de carros, brancos, amarelos ou vermelhos. Elas aparecem acima e abaixo do horizonte e variam de segundos a mais de uma hora.
Os relatos remontam aos anos de 1930, porém o auge veio entre Dezembro de 1981 e meados de 1984, com 15 a 20 aparições semanais que atraíam turistas à noite. Depois, a curva caiu: em 2010, ficaram entre 10 a 20 registros por ano.
Da curiosidade à ciência
O interesse popular virou investigação estruturada a partir de 1983, quando nasceu o Projeto Hessdalen, iniciativa dos grupos UFO-Noruega e UFO-Suécia. Já em 1982, o engenheiro Erling Strand, da Universidade Ostfold, buscava a física do fenômeno e descartava explicações por aeronaves, veículos ou edifícios.
Infraestrutura e equipes
Entre 1983 e 1985, a equipe fez trabalhos de campo contínuos. Mais tarde, o Projeto Triângulo (1997–1998) filmou luzes em forma de pirâmide saltando. Em 1998, chegou a Estação de Medição Automática de Hessdalen; depois, o programa EMBLA integrou cientistas e estudantes, com apoio da Universidade Ostfold e do Conselho Nacional de Pesquisas da Itália.
- Anos de 1930: primeiros relatos na região.
- Dezembro de 1981–meados de 1984: pico com 15 a 20 avistamentos por semana.
- 1982: Erling Strand inicia a busca pela física do fenômeno.
- 1983: criação do Projeto Hessdalen.
- 1983–1985: investigações de campo continuadas.
- 1996: Jader Monari começa seus estudos do vale.
- 1997–1998: Projeto Triângulo registra luzes piramidais.
- 1998: instalação da Estação de Medição Automática de Hessdalen.
- Desde 2002: o Science Camp realiza saídas anuais.
- 2010: queda para 10 a 20 avistamentos anuais.
- Setembro de 2015: movimentos em espiral observados junto aos orbes.
O que os instrumentos revelaram
Os pesquisadores detectaram pequena oscilação do campo magnético antes do surgimento das luzes. Contudo, medições de radioatividade e atividade sísmica indicaram normalidade no local, cerca de 400 km ao norte de Oslo. Portanto, o terreno não entregou causas óbvias.
Uma equipe internacional mediu tamanho, forma e velocidade com radar e análise espectral. As luzes não emitem som, parecem frias e não queimam o solo, ao contrário de relâmpagos. Entretanto, esterilizam o ponto de contato, eliminando micróbios presentes no terreno.
Ideias para explicar o brilho
Uma hipótese forte aponta para algum tipo de plasma. Ele nasce de gás ionizado e pode ser frio ao toque, além de matar micróbios; porém exige temperaturas altíssimas e muita energia. Em paralelo, há quem proponha um “plasma empoeirado” alimentado por radioatividade e decaimento de radônio.
Outros defendem um relâmpago esférico: orbes analisados na China continham silício, ferro e cálcio, também vistos em Hessdalen, com adição de escândio. Contudo, as luzes locais não surgem junto a tempestades. Assim, o Doutor Bjorn Gitle Hauge sugere que forma, clima e geologia do vale gerem cargas estáticas potencializadas por ventos fortes.
Geologia que gera faíscas
Desde 1996, o Doutor Jader Monari, do Instituto de Radioastronomia em Medicina, na Itália, estuda a região. Ele mapeou rochas ricas em zinco e ferro de um lado do rio e cobre do outro. Em Oslo, reproduziu o “vale” em miniatura e mostrou corrente suficiente para acender uma lâmpada.
Monari propõe a formação de bolhas de gás ionizado quando vapores sulfurosos do Rio Hesja reagem com o ar úmido. Além disso, linhas de campo eletromagnético no vale podem guiar os orbes. Há ainda minas de cobre abandonadas com calcopirita e magnetita, cujas pilhas podem intensificar anomalias magnéticas.
Movimentos em espiral confirmados
O programa Science Camp realiza expedições anuais desde 2002 e confirmou trajetórias em espiral. Esse comportamento apareceu também no Alabama, nos EUA. Em Setembro de 2015, espirais surgiram junto aos orbes mais comuns, indicando matéria de baixa carga atmosférica movendo-se em um campo magnético.
Energia em perspectiva
Seja qual for a origem, desvendar o mecanismo pode inspirar novas formas de armazenamento. O Doutor Bjorn Hauge visualiza instalações capazes de capturar partículas carregadas e retê-las, convertendo o fenômeno em solução prática para guardar energia em escala.
No cruzamento entre geologia, clima e eletricidade, Hessdalen virou laboratório a céu aberto. As peças já estão sobre a mesa: medições, modelos e dados de campo. Agora, a cooperação entre a Universidade Ostfold e parceiros da Itália promete encurtar o caminho até a resposta.
Enquanto a explicação final não chega, o vale segue desafiando suposições e alimentando projetos. Por fim, cada nova noite — e dia — em Hessdalen renova a chance de conectar mistério, ciência e, quem sabe, tecnologia energética de futuro.