Pesquisa sobre Testosterona: pessoas de esquerda tende a ter menos Testosterona

Experimento com homens democratas nos EUA ligou testosterona a um leve deslocamento conservador. Entenda métodos, limites, números e impactos.

Publicado 20/09/2025 às 10:19 por Viviane Grecilo Torres

Em 2024, pesquisadores da Claremont Graduate University, na Califórnia, testaram se a testosterona mexe com escolhas políticas. Além disso, a revista aceitou o artigo em 12 de junho de 2025. Homens jovens, todos democratas, receberam testosterona ou placebo em um ensaio duplo cego.

Antes de tudo, surge a pergunta óbvia: nossas escolhas ideológicas seriam só química? Não é tão simples, porém o experimento detectou um pequeno empurrão conservador em parte dos participantes. Vale entender quem mudou, em que medida, e por quê.

Como o experimento foi conduzido

Amostra e desenho

Os voluntários eram homens saudáveis, com média de 22 anos, e alinhamento democrata confirmado por questionários prévios. Como controle, metade recebeu placebo, enquanto a outra metade recebeu testosterona. Além disso, o protocolo seguiu duplo cego e usou formulação aprovada pela agência dos EUA (FDA).

Por cautela, o estudo incluiu somente homens, já que a formulação é indicada para eles. Mulheres ficaram de fora, pois a aplicação poderia gerar efeitos indesejados. Ainda assim, os autores separaram democratas em grupos “fortes” e “fracos” para comparar respostas.

O que mudou com a dose

Após a intervenção, quem recebeu testosterona exibiu posições um pouco mais conservadoras que o grupo placebo. Os pesquisadores chamaram o fenômeno de red shift. Porém, o efeito apareceu apenas entre “democratas fracos”; entre “fortemente democratas”, praticamente nada mudou.

Importante: todos os participantes eram democratas, e não havia republicanos no grupo. Assim, ainda não sabemos se “direitistas fracos” iriam mais à direita ou migrariam ao centro. Portanto, novos testes com republicanos ajudariam a esclarecer essa dinâmica.

Cores partidárias e o “red shift”

Nos Estados Unidos, o vermelho identifica republicanos e o azul identifica democratas. Já no Brasil, o vermelho remete à esquerda, enquanto verde, amarelo e até azul costumam associar-se à direita. Desse modo, o “red shift” indica um deslocamento conservador no contexto americano.

O abismo de gênero em números

Estados Unidos

A literatura já mapeou um gender divide: mulheres tendem mais à esquerda, homens mais à direita. Por exemplo, 47% dos homens dizem gostar de Trump, contra 26% das mulheres. Além disso, esse hiato aparece maior entre jovens e diminui com a idade.

Brasil

No Brasil, a pesquisa Quest mostrou um retrato semelhante. Entre mulheres, a avaliação do governo Lula ficou 48% aprovando e 48% desaprovando; já entre homens, a desaprovação aparece bem maior. Contudo, esse levantamento não trouxe o recorte por idade para homens e mulheres.

Possíveis mecanismos e interpretações

Uma hipótese conversa com o binômio medo–coragem. A testosterona tende a elevar a disposição a risco e a autoconfiança; logo, ela poderia reduzir demandas por proteção estatal. Contudo, coragem em excesso também cobra preço. Durante a pandemia, muita gente preferiu obedecer autoridades por sentir mais medo.

Além disso, o efeito apareceu em quem tinha engajamento político baixo. Enquanto isso, quem vive o debate diário — seja sobre Lula, Bolsonaro, Alexandre de Moraes, Trump ou Biden — costuma manter posição estável. Muitos, porém, priorizam Flamengo, Corinthians, Big Brother Brasil e shows da Anitta.

Limitações e próximos passos

O estudo nasceu na Califórnia e focou homens democratas, jovens e saudáveis. Portanto, a generalização pede cuidado. Ética importa, aliás, e ciência não serve como atalho político. Para avançar, vale testar outros públicos e medir duração do efeito hormonal.

  1. Incluir republicanos, especialmente “direitistas fracos”.
  2. Investigar mulheres com protocolos seguros e éticos.
  3. Checar persistência e tamanho do efeito ao longo do tempo.
  4. Replicar em diferentes países e contextos culturais.

No fim das contas, química pode dar um empurrãozinho, mas ideias e valores continuam no volante. Entre “democratas fracos”, a testosterona produziu um deslocamento conservador; já convicções fortes resistiram. Portanto, formação cívica e boa informação seguem decisivas.

De todo modo, o estudo de 2024, aceito em 2025, adiciona peças úteis ao quebra-cabeça. Cabe à pesquisa, agora, refinar métodos e ampliar amostras; cabe a nós, entretanto, discutir política com menos rótulos e mais evidências.

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