Pesquisas revelam o poder dos cheiros em nossa identidade e interações pessoais

Descubra a jornada de uma arqueóloga que, ao perder seu senso olfativo, desvendou a importância crítica deste sentido na construção da identi

Publicado 15/01/2024 às 21:03 por Alex Torres

Chrissi Kelly, uma arqueóloga americana residindo em terras britânicas, viu sua vida se transformar ao enfrentar a perda do olfato. A ausência dessa capacidade sensorial gerou um sentimento de deslocamento, como se uma parte de sua essência tivesse sido desligada do mundo. Essa desconexão trouxe uma compreensão mais profunda sobre o papel do olfato em nossas vidas – como ele nos une à natureza e solidifica laços afetivos – e o impacto devastador de sua falta.

Sentimentos de afeto e pertencimento, antes expressos pelo aroma de um abraço familiar, agora pertenciam ao passado. A experiência de Kelly evidenciava uma verdade crucial: o olfato é um componente vital do quebra-cabeça que compõe nossa autoconcepção.

O Nascer da AbScent: Uma Missão de Reconexão Sensorial

Movida pela sua transformação pessoal, Kelly iniciou a AbScent, uma organização altruística destinada a fornecer um farol de esperança para aqueles que enfrentam a perda olfativa. A iniciativa de Kelly surgiu como um reflexo do crescente entendimento científico sobre a relevância do olfato, que vem sendo confirmado por pesquisas contemporâneas.

Um exemplo notável surge de um estudo europeu de 2023, que aponta para a habilidade humana de identificar o cheiro do medo alheio, influenciando, por sua vez, nossas próprias emoções. Paralelamente, pesquisadores chineses observaram uma correlação entre a acuidade olfativa e a intensidade das conexões sociais. Shani Agron, uma mente brilhante do Instituto Weizmann de Ciência em Israel, destaca os diversos efeitos comportamentais surgidos da pesquisa olfativa.

O Olfato Subestimado: Um Sentido Sutil, Mas Fundamental

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Historicamente, a importância do olfato foi ofuscada por mal-entendidos. Até mesmo Charles Darwin chegou a desconsiderar seu valor para a espécie humana. Contudo, Bettina Pause, uma psicóloga biológica na Alemanha, sugere que essa subvalorização talvez se deva à natureza subconsciente da olfação social. Ela propõe que as alterações que ocorrem em nosso estado emocional durante interações sociais podem ser derivadas dessa comunicação olfativa sutil.

Pesquisas revelam nosso instinto de avaliar o odor do outro, muitas vezes sem perceber. Estudos mostram que mães podem reconhecer o cheiro de seus filhos minutos após o nascimento e vice-versa, demonstrando o olfato como um vínculo primitivo e imediato.

Curiosamente, mesmo gêmeos idênticos possuem odores distintos, percebidos pelos humanos e até por aparelhos tecnológicos, como narizes eletrônicos. Estudos também sugerem que o olfato influencia a escolha de amizades e parcerias, baseando-se em semelhanças genéticas e aromáticas.

Emoções no Ar: O Olfato e a Comunicação Não Verbal

Os estados emocionais transcendem e são comunicados também pelo sentido do olfato. Experimentos comprovam que cheiros capturados em momentos de felicidade podem influenciar o humor de quem os aspira posteriormente. Pause e sua equipe, em um estudo de 2020, observaram que mulheres reagem intensamente a odores masculinos associados a ansiedade ou competitividade, o que pode ser um mecanismo evolutivo para a proteção dos vulneráveis.

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Ter um olfato aguçado tem benefícios comprovados: indivíduos com melhor capacidade olfativa sentem menos solidão, possuem redes sociais maiores e interagem mais com seus amigos, como revelam estudos de imagem cerebral.

Apesar da importância clara do olfato, os mecanismos que regem a interpretação humana dos odores ainda são misteriosos. Pesquisadores como Johan Lundström, do Instituto Karolinska na Suécia, exploram ativamente os segredos dos compostos químicos no odor corporal, como o hexanal, com suas sugestões de confiança e segurança.

Olfato e Pandemia: Redescobrindo um Sentido Esquecido

O interesse pelo estudo do olfato foi revigorado pela pandemia de  2019, quando a perda olfativa emergiu como um sintoma comum. A variante ômicron, embora menos agressiva em relação ao olfato do que suas predecessoras, ainda afetou uma porção considerável da população europeia, conforme estudo de 2023. Essa condição impacta diretamente na comunicação não verbal e nas formas sutis de interação que muitas vezes negligenciamos.

Pause ressalta que, diferentemente de outros meios de expressão, como palavras ou gestos, os quais podemos controlar, o olfato permanece genuinamente inalterável – é uma fonte de informação confiável, a qual expressa nossa verdadeira natureza emocional.

A história de Chrissi Kelly e os avanços científicos lançam luz sobre a complexidade e a beleza do olfato, reforçando a ideia de que, ainda que invisível, ele é essencial para compreender quem somos e como nos conectamos com o mundo.

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