Pesquisa Inovadora Utiliza Fígado de Porco Geneticamente Modificado em Tratamento Humano
Em uma conquista sem precedentes, cientistas conectam com sucesso um fígado de porco ao corpo humano para filtrar o sangue, abrindo possibili
A comunidade médica presenciou uma façanha notável quando uma equipe da Universidade da Pensilvânia estabeleceu uma conexão funcional entre o fígado de um porco e o corpo de um humano. O procedimento pioneiro foi realizado com uma pessoa que havia sofrido morte cerebral. O órgão, originário de um porco com 69 modificações genéticas, realizou com êxito a filtragem do sangue humano durante três dias, sem sinais de rejeição pelo sistema imunológico humano.
Esperança Contra a Falência Hepática Aguda
David Cooper, cirurgião de transplantes do Massachusetts General Hospital em Boston, que não participou do procedimento, considera este avanço um salto para a medicina. Ele sugere que a abordagem poderá ser uma solução temporária para a insuficiência hepática aguda, condição que anualmente é responsável pela morte de milhares de pessoas e apresenta uma taxa de mortalidade de até 90%.
Transplantes de Órgãos de Outras Espécies
A xenotransplantação, que envolve o transplante de órgãos de espécies não humanas para humanos, tem registrado sucessos recentemente. Transplantes de coração de porcos geneticamente modificados foram realizados na Escola de Medicina da Universidade de Maryland, embora os pacientes transplantados tenham falecido poucos meses após o procedimento.
Estudos anteriores já transplantearam rins de porcos geneticamente modificados em pessoas em suporte vital após morte cerebral. Os porcos utilizados nos transplantes possuíam até 10 modificações no genoma para tornar as proteínas celulares mais semelhantes às humanas, o que contribui para a redução da rejeição imunológica.
A Complexidade do Transplante de Fígados
Fígados são órgãos altamente complexos e o desafio é maior do que com corações ou rins. Além de filtrar toxinas, o fígado produz compostos biológicos vitais. Portanto, qualquer incompatibilidade pode ser alvo do sistema imunológico humano. O fígado de porco utilizado foi desenvolvido pela empresa eGenesis, e diferentemente dos órgãos testados anteriormente, contava com 69 alterações genéticas. Essas modificações abrangiam a eliminação de vírus porcinos e a ‘camuflagem’ de proteínas para se assemelharem às humanas.
O Procedimento e Seus Resultados Promissores
Abraham Shaked, cirurgião de transplantes da Universidade da Pensilvânia, liderou a operação e explica que ao invés de transplantar o fígado dentro do corpo, a equipe optou por mantê-lo externamente em uma máquina, conectando-o ao sistema circulatório do receptor através de tubos. O fígado processou o sangue e produziu bile por 72 horas, após o qual a experiência foi concluída. Apesar da queda inicial no número de plaquetas do sangue, os níveis se estabilizaram e o órgão manteve suas funções sem sinais de sangramento, perda de oxigenação ou ataque por células imunes.
Avanços Futuros e Aplicações Práticas
Pesquisadores como Scott Nyberg da Clínica Mayo em Minnesota veem esses resultados com otimismo. Sua equipe, que trabalha em fígados artificiais, considera que a combinação de órgãos externos com medicamentos que aceleram a regeneração hepática poderia reduzir o tempo de necessidade de um sistema externo. Enquanto os fígados de porco totalmente transplantáveis ainda são uma meta a longo prazo, o uso temporário demonstra grande potencial para salvar vidas durante crises de falência hepática aguda.
O entusiasmo também é compartilhado por Jayme Locke, cirurgiã de transplantes da Universidade do Alabama em Birmingham. Caso o procedimento demonstre eficácia em “pontear” a insuficiência hepática aguda, o impacto na prática clínica pode ser significativo.
Planejando o futuro, a equipe de Shaked almeja iniciar testes em humanos com falência hepática aguda e já está elaborando protocolos para uso emergencial dos fígados de porco. Entretanto, mais testes em indivíduos com morte cerebral, incluindo aqueles com disfunção hepática, são necessários para avaliar a capacidade do fígado porcino funcionar por até uma semana.